EP no Campeonato de Espanha
Segunda, 21 Maio 2007 00:00

A Selecção Nacional de Parapente deslocou-se até Pegalajar, na Andaluzia, para uma participação de luxo no Campeonato Espanhol.
Numa prova muito competitiva, com constante troca de posições na frente da classificação, Cláudio Virgílio acabou por se evidenciar alcançando o terceiro lugar do pódio.

“De relembrar que este foi apenas mais um estágio da EP – aponta o seleccionador nacional - que, pelo facto de não ter havido este ano uma participação num campeonato FAI-1, decidimos levar na mesma uma “selecção” de pilotos a participar numa prova a fim de melhor viver um ambiente competitivo e dar rodagem aos pilotos antes do arranque da nossa época competitiva.”
Esta selecção – composta por David Agostinho, Cristiano Pereira, Nuno Virgílio, Eduardo Lagoa, Paulo Nunes e Miguel Costa – foi realizada sob critérios ligeiramente diferentes dos que seriam utilizados no caso de um Mundial ou Europeu.
Além destes, outros 8 portugueses, incluindo Cláudio Virgílio e Gil Navalho, participaram na prova.

Uma participação que superou as expectativas. Ao longo dos sete dias de prova, a comitiva lusa surpreendeu os nuestros hermanos menos atentos, ganhando 2 mangas, vários 2ºs lugares, colocando diariamente pilotos no golo nos 10 primeiros classificados e mantendo Cláudio Virgílio e Gil Navalho no topo da classificação geral.

Com uma participação sem precedentes – 180 inscritos, que tiveram de ser reduzidos a 158, por exigências do regulamento FAI – a versão 2007 do Campeonato de Espanha decorreu na zona de Siete Pillillas, perto da vila de Pegalajar.

Um sítio de voo interessante com bastante potencial em termos de criação de mangas e grande diversidade de relevos.

Ainda assim, haviam particularidades que reclamavam a atenção dos pilotos, porque “embora seja um local com boa actividade térmica, a pouca altitude disponível na descolagem não deixa grande margem para dúvidas e induz algum stress nos dias em que não há vento a sustentar o pessoal na ladeira.

Em termos de aterragens é um pouco estranho pois todos os campos num raio de 50Km são cobertos de oliveiras. À primeira vista parece problemático mas na prática não apresenta grande dificuldade pois a distância entre árvores e o seu alinhamento perfeito cria linhas de aterragem perfeitamente utilizáveis.” – explica Luís Miguel Matos.
Mas o local confirmou todo o potencial, com a realização de 6 mangas em 7 possíveis. Apenas no primeiro dia, com as condições dominadas pelo vento e pelo frio, os pilotos ficaram em terra.

Ao longo da semana as condições foram variando, tendo a organização optado por uma planificação de mangas com excessivo grau de dificuldade face à meteorologia existente. Uma opção que não é totalmente do agrado do seleccionador nacional.

“Tivemos alguns dias em que as mangas foram excessivamente tarde e demasiado longas dando origem a poucos pilotos no golo e voos pouco “picados”. Nas competições [espanholas] ainda se privilegia muito o voar de qualquer maneira, o voo “aventura” com muitos quilómetros.


Para trás fica um pouco a componente desportiva, o conceito de “corrida”, a logística e o descanso dos atletas.”

Reflexo desta filosofia, foi o facto de nenhum dos 158 pilotos inscritos ter completado todas as mangas e em 3 delas terem chegado menos de 10 pilotos ao golo.

Apenas a última manga, um trajecto de 56,7 Km desenhado pela organização para permitir mais chegadas, resultou em mais de 50 os pilotos no golo.

A presença da EP e demais pilotos lusos não passou despercebida à comunidade parapentística espanhola. Os elogios ao desempenho e ao espírito dos representantes nacionais tiveram eco em várias publicações on-line dedicadas à modalidade.

“Julgo que uma vez mais, o parapente nacional saiu fortalecido com uma imagem séria, forte e de um trabalho que muitos interrogam e tentam perceber para replicar.” – aponta Luís M. Matos, que defende ser este o melhor “cartão de visita” que podiam ter deixado em Espanha.

“Julgo que serviu para criar um pouco de vontade de vir mais às nossas provas e tirar a desforra ou mesmo aprender. A ser verdade, este seria para mim um dos maiores resultados deste trabalho!”

Nas contas finais, 4 pilotos portugueses nos 20 primeiros da classificação geral, com Cláudio Virgílio a subir ao pódio e Gil Navalho em 4º, poucos pontos atrás.

Cristiano Pereira foi outro dos portugueses em evidência ao vencer a 5ª manga.

O italiano Stefano Sottroi foi o vencedor do Campeonato de Espanha 2007, com o espanhol Ivan Colas a assegurar a segunda posição.

 

 

 

 

 

 

 

Classificação Geral Final
Class.
Nome
Pontos
1
Stefano Sottroi
5386
2
Ivan Colas
5319
3
Cláudio Virgílio
5283
4
Gil Navalho
5267
19
Nuno Virgílio
4248
20
Cristiano Pereira
4226
26
Rui Nascimento
3929
29
Eduardo Lagoa
3867
42
Miguel Costa
3497
48
Paulo Nunes
3351
64
David Agostinho
2996
67
Pedro Lacerda
2970
87
José Souza
2342
88
João Brito
2248
102
Gonçalo Velez
1852
113
Ivo Duarte
1659
> Classificação Geral Final (PDF)

A Figura
Cláudio Virgílio

Teve de cancelar a participação nesta selecção por questões profissionais a poucos dias da partida.
Num feliz volte face a sua partida foi adiada, já em Espanha, o que lhe permitiu ficar até ao final.
Liderando a classificação geral em vários dias, acabou a prova em 3º lugar.

O que achaste da prova?
A prova foi fantástica, todos os dias haviam mudanças nas posições da frente, muito competitiva.
6 dias 6 mangas também não é muito habitual se bem que as mangas foram sempre "a esticar a corda"…por vezes demais com mangas muito longas para as condições do dia. No entanto todos os dias houveram pilotos no golo
O sítio é muito bom, com uma única descolagem. Foi possível descolar todos os dias mesmo quando o vento meteorológico era desfavorável.
A organização esteve bem, mas houve o eterno problema das recolhas espanholas que demoram sempre horas mesmo quando se está a 3 ou 4 km da descolagem...

Foi a primeira vez que voaste naquele sítio? O que achaste das condições?
Sim, foi a 1ª vez que voei em Pegalajar. As condições térmicas que inicialmente se previam bastante potentes acabaram por ser bem mais fracas na realidade. Ainda assim houve dias de térmica +6 e +7 nas zonas de montanha.

Mesmo assim a prova começou bem?
Sim, ganhei a primeira manga e posso dizer que tive um grande feeling que as coisas iam começar bem, ainda no dia anterior à 1ª manga. Sentia-me muito confiante e muito motivado para esta prova, até porque inicialmente estava apenas para fazer 3 mangas - por motivos profissionais - e não queria de maneira alguma perder a oportunidade de fazer boas mangas para ranking. Aconteceu que para além de fazer boas mangas para ranking fiz boas mangas para a competição.

De onde vinha esse optimismo todo?
O optimismo todo deveu-se exactamente à falta de voo, é a chamada fome de voo. Já o ano passado me tinha corrido bem em Castejon de Sos e sabia que era possível fazer um bom resultado. Quando fui para Pegalajar queria vir-me embora estando no top 5 da competição.

Qual foi o segredo para ganhar a 1ª manga?
A 1ª manga correu-me bem, comecei ligeiramente atrasado em relação ao grupo da frente pois era o meu 3º voo do ano em térmica. Digamos k estava ainda sem o andamento e rendimento que tinha a subir térmica, no final da época passada. No entanto recuperei bem e acabei por passar o grupo da frente na última térmica: houve um erro na altitude do golo que eles não se aperceberam e que eu soube interpretar mais cedo…então enquanto todos subiam a meia dúzia de quilómetros do golo, eu passei por eles a todo o gás.

O ano passado ficaste em 3º em Castejon de Sos. Este ano, estiveste na frente da classificação vários dias mas esta última manga…
Nesta última manga as condições estavam muito fracas, houve muitos pilotos a "marrecar" directo. Eu comecei bem mas acabei por ter um ponto muito baixo que me fez perder quase 40 minutos para conseguir subir e continuar o voo.
O Ivan Colas (que estava em 2º na partida para a última manga) andou sempre comigo a controlar-me, e eu a ele. No entanto, nesse ponto baixo ele arriscou mais do que eu e teve o mérito de se safar e subir mais rápido.
Foi talvez falta de confiança para arriscar, porque era muito importante chegar ao golo na última manga para garantir um lugar no pódio, daí o meu "não-arriscanço"

De qualquer maneira estás satisfeito com este resultado?
Claro que sim. Muito satisfeito. Era um campeonato nacional, estavam lá todos os espanhóis a lutar por um título, e conseguir um resultado destes "fora de casa" é uma grande vitória

Com que imagem ficaram os espanhóis dos pilotos portugueses?
Penso que ficaram surpreendidos, não estavam de forma alguma à espera de ver portugueses a ganhar 2 mangas, a fazer 1ºs e 2ºs lugares, portugueses todos os dias no golo. A ideia com que viemos foi que os espanhóis querem uma desforra.
Houve vários espanhóis que nos perguntaram quando eram as provas em Portugal, um dos organizadores veio falar comigo e falou-me em fazer uma prova conjunta ao estilo da Copa Ibérica

Achas mudou em alguma coisa a imagem que tinham dos portugueses?
Sim, sem dúvida. Penso que eles não sabiam que havia tantos portugueses a voar bem.