Pim Pim Voador

Filipe Nascimento
Idade: 31
Pim Pim para os amigos.

Há 15 anos teve o primeiro contacto com o parapente mas depressa deixou de lado a actividade.

Anos depois, um acidente de moto confinou-o a uma cadeira de rodas.

Rejeitou a imobilidade e reencontrou no voo a liberdade total.

“Sempre gostei de desportos ao ar livre com algum nível de adrenalina e era também praticante de surf, snowboard, vela, e Todo Terreno de moto.” – explica.

O primeiro contacto com o parapente foi na praia da Cordoama, com o Aero Clube de Lagos. Corria o ano de 1992 e o Filipe tinha apenas 16 anos.

“ Foi nessa altura que comecei a aprender, mas foi tudo muito breve e acabou logo por motivos de distâncias e de eu ainda não ter carta, uma vez que morava em Faro e voava-se principalmente em Vila do Bispo.”

Um actividade que reencontrou anos mais tarde, em grande parte devido ao acidente de moto numa prova de Todo o Terreno, que o deixou paraplégico.

”Farto de estar em casa nos fins-de-semana, comecei a procurar o que é que poderia fazer....isto na minha cabeça. O parapente era uma coisa que gostava e que achava que era possível, só faltava tentar.”

Um dia, José Rosado, instrutor da WIND no Algarve recebeu um telefonema. Do outro lado da linha, um potencial novo aluno fez-lhe um pedido invulgar. “Telefonei e disse-lhe que queria fazer o curso, que estava interessado, mas que tinha um problema: estava numa cadeira de rodas. Após 2 segundos de silêncio o Zé responde “acho que não há problema!”

“Na verdade já tinha lido alguns relatos de pessoas com incapacidade que frequentaram cursos de voo livre, mas não em Portugal.” – explica José Rosado.

“No entanto ser eu a abraçar este desafio deixava-me um pouco apreensivo. Mas depois de termos falado percebi que estava ali um homem com uma força enorme, pronto para aceitar e vencer todas as dificuldades. No fundo, incomparavelmente menores de todas as que já tinha vencido!

Senti que não seria justo negar ao Filipe a possibilidade de praticar uma modalidade desportiva que lhe permitiria voltar a ter momentos de autêntica liberdade.”
O primeiro passo estava dado mas um caso desta natureza exigia uma logística diferente. Como anular as barreiras físicas que impediam Pim Pim de descolar?

Este aspecto não foi muito difícil de ultrapassar.” – desmistifica o instrutor da WIND. “A formação académica do Filipe deu uma grande ajuda, pois ele é engenheiro mecânico.”

“Começamos a pesquisar na net à procura de ideias, uma vez que cá ainda não havia experiência.” – aponta o instruendo.

“Encontramos algumas soluções, que não achei muito práticas, confortáveis ou seguras. Daí a minha ideia foi construir qualquer coisa de novo.

Para começar foi necessário descobrir o material, o tipo de rodas, a altura, etc, - tinha de ser quase um todo terreno para se adequar às nossas descolagens aqui no Algarve.

Assim a ideia foi fazer um carro robusto o suficiente para aguentar tudo isto, que conseguisse meter dentro do carro facilmente e com o qual conseguisse voar. E já deu provas de ser excelente para escola, até para voos em biplace.”

Com a barreira física contornada abria-se espaço para a aprendizagem efectiva. Algo que o próprio considerou “não muito difícil, mas sim demorado” uma vez que apenas voava com as condições ideais. No entanto o tempo passado no chão a fazer inflados não foi um desperdício já que “agora as descolagens são super fáceis”.

“Se no solo praticávamos o descolar e o aterrar, no ar o Filipe podia praticar a pilotagem da asa.” – completa José Rosado. “Fizemos inúmeros voos em bilugar e hoje reconheço que a utilização deste equipamento foi decisivo para a sua progressão em segurança.”

E se a técnica de ensino não diverge muito do curso de parapente “comum”, o mesmo se pode dizer do equipamento que, excepto o carro de descolagem, é “normalíssimo”. “Pretende-se é que quer a asa, quer o arnês, ofereçam elevados níveis de segurança .”

A única limitação técnica prende-se com a tipologia dos locais de voo, que devem oferecer uma segurança elevada nas descolagens e aterragens assim como permitir o acesso com viatura.

“Nunca vi no Filipe um aluno diferente.” – assegura o instrutor. “Senti foi que tinha que dedicar um pouco mais de mim mesmo, pois no fundo a aprendizagem era recíproca.”

“Tenho que reconhecer que para mim foi um desafio. Não tenho muita experiência como instrutor e perante uma situação destas e gostando de voar como gosto, senti um dever enorme em não fechar a porta a mais um praticante que quando está a voar quebra todas as barreiras.”
Filipe Nascimento recusa o rótulo de modelo já que “não gosta de pensar em lições nem de andar a provar o que quer que seja”.

Além disso “as dificuldades motoras são bastantes e sei que nunca serei completamente autónomo, pois preciso sempre de ajuda nem que seja para estender ou recolher a asa.”

“Não considero desafio pessoal nenhuma das minhas actividades, apenas faço as coisas que me dão gozo e esta é uma.(…) Não é a casualidade de um acidente que nos deve fazer mudar, nem de personalidade nem de estilo de vida.”

Felipe Nascimento, Pim Pim para os amigos, concluíu com sucesso o curso de Parapente e recebeu no passado Setembro a licença de voo FPVL.

E sem traçar metas, sorri ao pensar no futuro.

“Competir não me parece um objectivo, mas nunca se pode dizer desta água não beberei.”

Diogo Cardosoo
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