Pim Pim Voador |
Filipe Nascimento Há 15 anos teve o primeiro contacto com o parapente mas depressa deixou de lado a actividade. Anos depois, um acidente de moto confinou-o a uma cadeira de rodas. Rejeitou a imobilidade e reencontrou no voo a liberdade total. “Sempre gostei de desportos ao ar livre com algum nível de adrenalina e era também praticante de surf, snowboard, vela, e Todo Terreno de moto.” – explica. O primeiro contacto com o parapente foi na praia da Cordoama, com o Aero Clube de Lagos. Corria o ano de 1992 e o Filipe tinha apenas 16 anos. “ Foi nessa altura que comecei a aprender, mas foi tudo muito breve e acabou logo por motivos de distâncias e de eu ainda não ter carta, uma vez que morava em Faro e voava-se principalmente em Vila do Bispo.” ”Farto de estar em casa nos fins-de-semana, comecei a procurar o que é que poderia fazer....isto na minha cabeça. O parapente era uma coisa que gostava e que achava que era possível, só faltava tentar.” Um dia, José Rosado, instrutor da WIND no Algarve recebeu um telefonema. Do outro lado da linha, um potencial novo aluno fez-lhe um pedido invulgar. “Telefonei e disse-lhe que queria fazer o curso, que estava interessado, mas que tinha um problema: estava numa cadeira de rodas. Após 2 segundos de silêncio o Zé responde “acho que não há problema!” “No entanto ser eu a abraçar este desafio deixava-me um pouco apreensivo. Mas depois de termos falado percebi que estava ali um homem com uma força enorme, pronto para aceitar e vencer todas as dificuldades. No fundo, incomparavelmente menores de todas as que já tinha vencido! Senti que não seria justo negar ao Filipe a possibilidade de praticar uma modalidade desportiva que lhe permitiria voltar a ter momentos de autêntica liberdade.” “Começamos a pesquisar na net à procura de ideias, uma vez que cá ainda não havia experiência.” – aponta o instruendo. “Encontramos algumas soluções, que não achei muito práticas, confortáveis ou seguras. Daí a minha ideia foi construir qualquer coisa de novo. Para começar foi necessário descobrir o material, o tipo de rodas, a altura, etc, - tinha de ser quase um todo terreno para se adequar às nossas descolagens aqui no Algarve. Assim a ideia foi fazer um carro robusto o suficiente para aguentar tudo isto, que conseguisse meter dentro do carro facilmente e com o qual conseguisse voar. E já deu provas de ser excelente para escola, até para voos em biplace.” Com a barreira física contornada abria-se espaço para a aprendizagem efectiva. Algo que o próprio considerou “não muito difícil, mas sim demorado” uma vez que apenas voava com as condições ideais. No entanto o tempo passado no chão a fazer inflados não foi um desperdício já que “agora as descolagens são super fáceis”. E se a técnica de ensino não diverge muito do curso de parapente “comum”, o mesmo se pode dizer do equipamento que, excepto o carro de descolagem, é “normalíssimo”. “Pretende-se é que quer a asa, quer o arnês, ofereçam elevados níveis de segurança .” A única limitação técnica prende-se com a tipologia dos locais de voo, que devem oferecer uma segurança elevada nas descolagens e aterragens assim como permitir o acesso com viatura. “Tenho que reconhecer que para mim foi um desafio. Não tenho muita experiência como instrutor e perante uma situação destas e gostando de voar como gosto, senti um dever enorme em não fechar a porta a mais um praticante que quando está a voar quebra todas as barreiras.” Além disso “as dificuldades motoras são bastantes e sei que nunca serei completamente autónomo, pois preciso sempre de ajuda nem que seja para estender ou recolher a asa.” “Não considero desafio pessoal nenhuma das minhas actividades, apenas faço as coisas que me dão gozo e esta é uma.(…) Não é a casualidade de um acidente que nos deve fazer mudar, nem de personalidade nem de estilo de vida.” Felipe Nascimento, Pim Pim para os amigos, concluíu com sucesso o curso de Parapente e recebeu no passado Setembro a licença de voo FPVL. E sem traçar metas, sorri ao pensar no futuro. “Competir não me parece um objectivo, mas nunca se pode dizer desta água não beberei.” Diogo Cardosoo |